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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

E a reparação dos danos causados a corações e mentes nestes já 50 anos?


O jornal O GLOBO, em sua edição de hoje, reserva meia página (a de número 5) para auto-elogios quanto à sua grave decisão de admitir que errou ao apoiar editorialmente o golpe militar de 1964.

Fiel a este alinhamento, e por muito tempo, O Globo chamou o golpe militar de "Revolução", bem ao gosto dos generais que durante 21 longos anos ocuparam o poder central do Brasil.

Aliás, o - ótimo - livro de Joe Wallach, o "americano" da Globo (*), conta com quantos militares se fez o grupo de empresas de Roberto Marinho. Do almoxarifado à contabilidade, da cenografia à central técnica, das garagens ao lobby, aparecem tenentes-aviadores, capitães intendentes, sargentos, marinheiros... Não fica claro se faziam "bico", numa dupla jornada por lá, ou se estavam licenciados de suas atividades de caserna...

O jornal também admitiu que tentou "vender" aos seus leitores (**), que não havia importância nas movimentações que chegaram a reunir, em um dia, 1 milhão de pessoas na praça de Sé, em São Paulo, pelas Diretas Já, em 1984.

A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!

Na matéria encomendada, chapa-branca, Maurício Azêdo, pessoa - hoje - nefasta ao jornalismo por seu absoluto e aviltante (***) apego ao poder, na ABI, constrói a seguinte tese: "o jornal tomou uma atitude corajosa ao admitir que cometeu um equívoco editorial. Algo que até hoje não foi feito por outros veículos de comunicação de expressão nacional, que também se manifestaram a favor dos militares" (vide foto acima).

Ora, para uma empresa (mais... para um conglomerado de comunicação que se desenvolveu inteiramente à sombra da ditadura, o que agora considera um "equívoco 'editorial'!") com tanta responsabilidade e poder sobre a opinião pública, formadora de consciências; um reconhecimento público como este requer pronta e justa reparação dos danos causados! Mas, como calcular o reparo devido por tamanho equívoco?

Se a cultura de um povo tanto deve aos seus meios de comunicação, qual a parcela que se poderia atribuir a um, ou a dois, ou a três veículos, na criação de um imaginário "pró-golpe"? Como se mede isto? E suas consequências? Como se avalia o prejuízo decorrente? Se as Organizações Globo, com todo o seu poderio, estivesse contra os militares, estaríamos nós ainda em meio a tanta desigualdade social, subdesenvolvimento cultural e histórico de corrupção? Talvez não...

E como se contabiliza a reparação necessária? Se "a Globo" (constelação de empresas assim tratada pela percepção de todo-poderosa de que desfruta e que, efetivamente, exerce) pôde tanto, e tanto ainda pode, desde 1964, como proceder a uma reparação justa aos corações e mentes que se deixaram levar por tal equívoco (pai e avô de tantos outros, provavelmente...) de quem está a completar 50 anos "campeã de audiência" na mesma data que o golpe?

Está aí um cálculo indenizatório do qual eu gostaria de participar. 

(*) "Meu capítulo na TV Globo". Rio de Janeiro, Top Books. 2011. 

(**) ... ouvintes (do sistema Globo de rádio) e telespectadores (da Rede Globo de Televisão) - porque ninguém pode esquecer o fato de que o jornal foi a célula mater do conglomerado empresarial que por volta de 2001, quando do salvador "PROER da Mídia", de FHC, chegava a 99 empresas... (o grupo Silvio Santos tinha, então, 44 companhias).

(***) As últimas (e enésimas) eleições de Azêdo para a presidência da Associação Brasileira de Imprensa estão sub judice em virtude de fraudes constatadas no processo eleitoral.

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